Segurança em transporte de produtos perigosos: o que você precisa saber

O transporte de produtos perigosos envolve riscos elevados: impactos à saúde humana, à segurança no trânsito e ao meio ambiente. 

Mais do que uma questão de compliance, é uma oportunidade de demonstrar seriedade operacional — o que fortalece autoridade e reduz custos com acidentes, autuações e recall de imagem.

1. O que são produtos perigosos?

Produtos perigosos são substâncias ou materiais que, por suas propriedades físicas, químicas ou biológicas, podem representar risco significativo durante transporte, manuseio ou armazenamento.

Eles podem causar:

  • incêndios/explosões;
  • contaminação do solo, água ou ar;
  • danos à saúde humana ou fauna e flora;
  • prejuízos materiais e reputacionais.

1.1 Classes de risco

A classificação segue os padrões internacionais da United Nations Economic Commission for Europe (UNECE) e está dividida em 9 classes principais:

  1. Explosivos
  2. Gases
  3. Líquidos inflamáveis
  4. Sólidos inflamáveis
  5. Substâncias oxidantes e peróxidos orgânicos
  6. Substâncias tóxicas e infectantes
  7. Materiais radioativos
  8. Corrosivos
  9. Substâncias perigosas diversas (ex: baterias de lítio)

Cada classe exige atenção para embalagem, transporte, compatibilidade, sinalização e documentação.

2. Quais os principais riscos no transporte?

É essencial compreender os pontos críticos para mitigar os efeitos negativos:

  • Incêndios ou explosões: cargas inflamáveis ou explosivas sem contenção podem gerar grandes danos.
  • Exposição tóxica: vazamentos ou contato inadequado podem gerar intoxicações ou acidentes graves.
  • Contaminação ambiental: solo, água ou ar podem ficar comprometidos — com multas ambientais, perdas operacionais e crises de imagem.
  • Danos a equipamentos e infraestrutura: produtos corrosivos ou reativos comprometem veículos, vias e equipamentos.
  • Impactos operacionais e reputacionais: uma ocorrência gera interrupção de operação, custos extras e perda de confiabilidade.

3. Qual é a legislação no Brasil e o que mudou?

3.1 Órgãos reguladores

O regulamento brasileiro para transporte rodoviário de produtos perigosos está sob responsabilidade da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT).

A legislação principal inclui:

  • Resolução ANTT nº 5.998/2022 – norma atual, publicada em 3 de novembro de 2022, em vigor desde 1º de junho de 2023.
  • Norma anterior Resolução ANTT nº 5.947/2021 – parcialmente revogada pela 5.998.
  • Outras normas complementares e regulamentos técnicos (Inmetro, ABNT) se aplicam.

3.2 Principais mudanças na Resolução 5.998/2022

  • Atualização da lista de produtos perigosos (inclusão de novos números ONU, exclusão de alguns)
  • Revogação da necessidade da “Declaração do Expedidor”.
  • Revisão nas penalidades e infrações aplicáveis.
  • Novas diretrizes para embalagens, sinalização e compatibilidade de cargas.
  • Proibição mais clara do transporte em motocicletas, motonetas ou ciclomotores, salvo exceções.

3.3 Porque isso importa para seu negócio

Estar em conformidade com a Resolução 5.998/2022 — e suas Instruções Complementares — reduz riscos financeiros, operacionais e de imagem.

Ignorar ou aplicar regras antigas pode levar a autuações, retenções de carga ou até suspensão da operação.

4. Como deve ser feito o transporte seguro

4.1 Classificação, identificação e embalagem

  • Cada carga deve ser classificada segundo o número ONU e a classe de risco.
  • Embalagens devem estar em conformidade com as Instruções Complementares da ANTT, aprovadas pelo fabricante ou por norma técnica.
  • Sobre embalagens, estivas e fixações bem executadas — evitando deslocamento, tombamento ou violação.

4.2 Veículos, sinalização e equipamentos

  • Veículo deve estar registrado no RNTRC (Registro Nacional de Transportadores Rodoviários de Cargas) e atender requisitos da ANTT.
  • Sinalização clara (placas, rótulos de risco) visível durante transporte, mesmo se vazio e ainda contaminado.
  • Conjunto de equipamentos para emergência (extintores, kits de contenção, EPIs) dentro da cabine ou próximo à porta de acesso, conforme peso bruto.
  • Veículos não podem transportar produtos perigosos se contaminados externamente ou em condições inseguras.

4.3 Treinamento e capacitação

  • O condutor deve possuir curso específico para transporte de produtos perigosos (curso MOPP ou similar) e habilitação adequada.
  • Treinamentos periódicos, simulações de emergência, verificação de EPI, embalagem, protocolo de rota.

4.4 Planejamento de rota e monitoramento

  • Selecionar rotas que evitem áreas densamente povoadas ou ambientalmente sensíveis.
  • Verificar restrições de tráfego, pontes, condições da via.
  • Adotar monitoramento em tempo real (tecnologia de rastreamento) para aumentar a agilidade em caso de evento adverso — item cada vez mais exigido por garantias operacionais.

4.5 Documentação obrigatória

Com o novo regulamento, os documentos mínimos são:

  • Certificado de Inspeção para Transporte de Produtos Perigosos (CTPP) ou Certificado de Inspeção Veicular (CIV) para transporte a granel.
  • Documento para Transporte de Produtos Perigosos contendo informações da carga (número ONU, classe, quantidade, perigos).
  • Outros documentos exigidos nas Instruções Complementares.

Obs: a “Declaração do Expedidor” não é mais obrigatória conforme a Resolução 5.998/2022.

5. Perguntas Frequentes (FAQ)

Q1. Qual a diferença entre produto perigoso e não perigoso?
Produto perigoso representa risco à saúde, segurança ou meio ambiente; não perigoso não apresenta esses riscos.

Q2. O que é o “Número ONU”?
É um código de 4 dígitos atribuído pela ONU para identificar substâncias perigosas internacionalmente, garantindo padronização.

Q3. Quais as 9 classes de risco?
Explosivos, gases, líquidos inflamáveis, sólidos inflamáveis, oxidantes/peróxidos, tóxicos/infectantes, radioativos, corrosivos e diversos.

Q4. A que minha empresa precisa se atentar no manuseio e transporte?
Classificação correta, acondicionamento, sinalização de veículo, uso de EPI, treinamento, documentação, seleção de rota e monitoramento.

Q5. Em caso de vazamento ou acidente, o que fazer?
Isolar a área, acionar equipe preparada, usar EPI, notificar autoridade competente, disponibilizar FDS (Ficha com Dados de Segurança) com informações da substância e seguir o plano de emergência.

6. Sustentabilidade, reputação e vantagem competitiva

Transportar produtos perigosos de forma segura e conforme a legislação não é apenas obrigação — é diferencial competitivo. 

Empresas que demonstram excelência na gestão deste tipo de risco:

  • reduzem sinistros e custos associados;
  • fortalecem a confiança perante clientes e parceiros;
  • minimizam impacto ambiental e evitam crises de imagem;
  • se antecipam a regulações futuras e exigências de auditoria.

7. Check-list prático para operação

  • Classificação correta da carga (classe + número ONU)
  • Embalagem e sobreembalagem aprovadas + estiva conforme normas
  • Veículo inscrito no RNTRC + certificado CTPP/CIV válidos
  • Sinalização exterior visível, conforme a carga
  • Equipamentos de emergência + EPI presentes e acessíveis
  • Condutor com curso de transporte de produtos perigosos e CNH adequada
  • Rota planejada + monitoramento em tempo real
  • Documentação organizada e disponível para fiscalização
  • Revisão periódica de equipamentos e plano de contingência

Registro de auditorias e feedback para melhoria contínua

8. Conclusão

Se você atua no transporte de produtos perigosos, dominar a nova Resolução ANTT nº 5.998/2022 e aplicar os protocolos de segurança, monitoramento e sustentabilidade é imperativo para operar com eficiência, reduzir riscos e fortalecer a sua marca.

A conformidade não é apenas cumprir regras — é construir autoridade, mitigar perdas, proteger vidas e o meio ambiente.

Safety Data Sheet (SDS): o que é e como elaborar o documento?

A Safety Data Sheet (SDS), conhecida no Brasil como Ficha com Dados de Segurança (FDS), é um dos pilares da gestão segura de produtos químicos.

Com a atualização da ABNT NBR 14725:2023 e a obrigatoriedade da nova FDS a partir de julho de 2025, torna-se essencial que as empresas estejam adequadas às novas exigências para evitar sanções, proteger trabalhadores e garantir conformidade ambiental e ocupacional.

O que é a Ficha com Dados de Segurança (FDS)

A Ficha com Dados de Segurança (FDS) é um documento técnico que reúne informações detalhadas sobre as propriedades de substâncias e misturas químicas, incluindo:

  • Identificação do produto e do fornecedor;
  • Riscos à saúde e ao meio ambiente;
  • Medidas preventivas de segurança;
  • Procedimentos de emergência e descarte adequado.

Seu principal objetivo é garantir o uso seguro de produtos químicos, protegendo trabalhadores, consumidores e o meio ambiente, além de atender à legislação brasileira e aos padrões internacionais do Sistema Globalmente Harmonizado (GHS).

FDS (antiga FISPQ), MSDS e SDS: diferenças e atualizações

Os termos FISPQ, MSDS e SDS representam fases distintas da evolução normativa da comunicação de perigo químico:

TermoSignificadoBase legal / normativaSituação atual
FISPQFicha de Informação de Segurança de Produto QuímicoABNT NBR 14725:2014Substituída pela FDS em 2023
MSDSMaterial Safety Data SheetUtilizada antes do GHS (EUA e outros países)Desatualizada
SDS / FDSSafety Data Sheet / Ficha com Dados de SegurançaABNT NBR 14725:2023 (GHS ONU Rev. 7)Vigente no Brasil e obrigatória até julho/2025

A ABNT NBR 14725:2023 substituiu oficialmente o termo FISPQ por FDS, alinhando o Brasil ao formato internacional SDS (Safety Data Sheet).

Essa atualização exige que todas as empresas que produzem, importam ou comercializam produtos químicos revisem seus documentos e adotem o novo modelo padronizado.

O que mudou com a ABNT NBR 14725:2023

A nova norma trouxe mudanças significativas que impactam diretamente a elaboração e atualização da FDS:

1. Atualização do GHS

A norma adota a 7ª Revisão do Purple Book da ONU, ampliando critérios de classificação de perigos físicos, à saúde e ambientais.

2. Estrutura atualizada

Mantém-se o formato com 16 seções, mas com ajustes na ordem, conteúdo e terminologias para adequação global.

3. Prazo de transição

Empresas tiveram até 1º de julho de 2025 para substituir suas antigas FISPQs por FDS atualizadas.

4. Inclusão de novas informações

Passam a ser obrigatórios dados complementares, como:

  • Identificadores únicos de composição (UIC);
  • Fontes de dados toxicológicos e ecotoxicológicos;
  • Data de elaboração e revisão visível na Seção 16;
  • Compatibilidade com rótulos GHS atualizados.

Estrutura da Ficha com Dados de Segurança (FDS)

A FDS deve seguir a estrutura harmonizada do GHS, composta por 16 seções padronizadas. 

Confira:

SeçãoConteúdo principal
1Identificação do produto e da empresa
2Identificação de perigos
3Composição/informações sobre os ingredientes
4Medidas de primeiros socorros
5Medidas de combate a incêndio
6Medidas de controle para derramamento ou vazamento
7Manuseio e armazenamento
8Controle de exposição e proteção individual
9Propriedades físicas e químicas
10Estabilidade e reatividade
11Informações toxicológicas
12Informações ecológicas
13Considerações sobre destinação final
14Informações sobre transporte
15Informações sobre regulamentações
16Outras informações, incluindo data de elaboração e revisão

Essas seções garantem uma padronização internacional, facilitando a comunicação e o comércio seguro de produtos químicos.

Importância da FDS para a segurança e conformidade

A Ficha com Dados de Segurança (FDS) é um documento de gestão integrada de riscos químicos, com funções que vão além da simples obrigação legal:

  • Prevenção de acidentes: reduz riscos de exposição e contaminação.
  • Capacitação de trabalhadores: fornece base para treinamentos e manuseio seguro.
  • Conformidade regulatória: evita multas e autuações ambientais.

Gestão sustentável: contribui para o cumprimento da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) e práticas de ESG.

Como elaborar uma Ficha com Dados de Segurança (FDS)

A elaboração de uma FDS deve seguir critérios técnicos e regulatórios rigorosos.

Veja as principais etapas:

1. Coleta de informações

Reúna dados sobre a composição química, propriedades físico-químicas, toxicidade, reatividade e impacto ambiental.

2. Classificação de perigo

Aplique os critérios do GHS ONU Rev.7, de acordo com a ABNT NBR 14725:2023, e defina as frases de perigo e precaução correspondentes.

3. Elaboração das 16 seções

Redija cada seção com base em dados técnicos e em linguagem clara, conforme exigências da norma.

4. Revisão técnica e validação

A FDS deve ser revisada por profissionais qualificados em toxicologia, segurança química e regulamentação.

5. Atualização periódica

A atualização é obrigatória sempre que houver:

  • Nova informação sobre perigos;
  • Alteração de composição;
  • Atualização normativa.

Consequências do não cumprimento

Empresas que não se adequarem até julho de 2025 podem enfrentar:

  • Autuações e multas ambientais (Lei nº 9.605/1998);
  • Embargo de produtos químicos por não conformidade com o GHS;
  • Riscos trabalhistas por falta de informação adequada sobre perigos.

Por isso, manter a FDS em conformidade é uma exigência técnica e estratégica.

Boas práticas para gestão de FDS em empresas químicas

  • Utilize um sistema digital de controle e armazenamento das FDS;
  • Garanta que o documento esteja disponível para todos os trabalhadores;
  • Treine as equipes com base nas informações das FDS;
  • Revise periodicamente as fichas em conjunto com a área de segurança e meio ambiente.

Ficha com Dados de Segurança (FDS) e sustentabilidade

A FDS também contribui para estratégias de ESG e responsabilidade ambiental, pois orienta sobre descarte correto, transporte seguro e minimização de impactos ambientais.

Empresas que integram a gestão de produtos químicos ao seu sistema de sustentabilidade reduzem riscos operacionais e reforçam sua reputação no mercado.

Conclusão

Com a ABNT NBR 14725:2023 e a obrigatoriedade da nova Ficha com Dados de Segurança (FDS) até julho de 2025, as empresas precisam agir rapidamente para garantir conformidade, segurança e credibilidade.

A FDS deixou de ser apenas um requisito documental — é agora uma ferramenta estratégica de gestão de risco químico, sustentabilidade e compliance.

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A Intertox é referência nacional em toxicologia, segurança química e meio ambiente, com equipe técnica especializada na elaboração, revisão e atualização de Fichas com Dados de Segurança (FDS) conforme a ABNT NBR 14725:2023 e o GHS ONU.

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