Transformar a (consolidada) cultura do consumismo na (incipiente) cultura da sustentabilidade: como?

12 anos atrás

Não é preciso curso de pós-graduação para que qualquer um perceba, se se der a pensar, que ainda não existe a fórmula mágica para o ‘ crescimento’ interminável da economia e sua humanidade… Há séculos que esse crescimento tem sido tomado como abastança de bens materiais, riquezas sólidas, e sua fruição, só isso. O planeta Terra é finito, e ainda não temos (teremos?) tecnologia para trazer bens de outros corpos celestes. O que fazer quando tudo estiver acabando? Mudaremos as tecnologias de produção e consumo antes? As sociedades se adaptam? Nada disso acontecerá de chofre, os processos são paulatinos? O planeta tem homeostase de sobra para se desintoxicar? O catastrofismo é libelo dos chatos? O progresso e o desenvolvimento são inclusivos e democratizantes? São muitas as perguntas, não é mesmo, e outras tantas podem facilmente ser entabuladas. Temos também contribuído para a questão com algumas reflexões, como Shopping Center – Centro de Consumo Totêmico: pressão de risco à sustentabilidade e Endossustentação para a sustentabilidade.

Um tanto de esclarecimento a tal cipoal seguramente pode ser encontrado nas páginas do Estado do Mundo 2010 – Transformando Culturas Do Consumismo à Sustentabilidade.

 

Transformar cultura consumismo sustentabilidade

 

Na apresentação da edição brasileira Eduardo Athayde (Worldwatch Institute-Brasil) e Helio Mattar (Instituto Akatu) nos rememoram que:  A Declaração do Milênio, da ONU, aprovada por 189 países em setembro de 2000, expressa a decisão da comunidade internacional de reduzir à metade, até 2015, o número de pessoas que vivem com menos de um dólar por dia. De acordo com o “World Development Report”, porém, em muitos países, onde as taxas de crescimento foram negativas, o avanço econômico permanece abaixo do nível considerado necessário para se atingir os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio.  E mais: Um bilhão e meio de pessoas no mundo continuam abaixo da linha da pobreza, sobrevivendo com menos de US$ 1,25 por dia. O compromisso com investimentos internacionais destinados à diminuição do fosso e da desigualdade social entre populações de elevado consumo, que movimentam mercados concentrados, e o 1/5 da humanidade que luta para sobreviver, é um desafio a ser enfrentado.  Por fim: Tal esforço, porém, resultaria apenas parcialmente bem sucedido na ausência de uma equação capaz de frear o consumismo concentrado e impulsionar o quanto antes o consumo sustentável – equação esta que passa, entre outros fatores, por uma profunda mudança cultural e comportamental. Tal mudança na cultura do consumo é a proposta trazida ao debate pelo Estado do Mundo 2010, relatório anual do WWI Worldwatch Institute.

Noutra matéria sua, Rio +20: Balanço global, http://colunas.revistaepoca.globo.com/planeta/2011/08/18/rio-20-balanco-global/ o mesmo Athayde nos revela que (excertos):

(…) As 500 milhões de pessoas mais ricas do mundo (aproximadamente 7% da população mundial) são responsáveis por 50% das emissões globais de carbono, enquanto os 3 bilhões mais pobres são responsáveis por apenas 6%. Os 16% mais ricos do mundo são responsáveis por 78% do total do consumo mundial, ficando para os 84% restantes, apenas 22% do total global a ser consumido.

Hoje, são extraídas 60 bilhões de toneladas de recursos anualmente, 50% a mais do que há apenas 30 anos. Entre 1950 e 2010 a produção de metais cresceu seis vezes, a de petróleo, oito, e o consumo de gás natural, 14 vezes; revela o Estado do Mundo 2010, relatório do WWI – Worldwatch Institute. Junto com o crescimento da desigualdade social também escalam a tensão e a violência nas cidades que ocupam apenas 0,4% da superfície do planeta.

(…) O resultado desta visão, ainda vigente, proliferou, levando o americano médio a consumir atualmente 88 quilos de recursos diariamente e o europeu médio, 43 quilos. A China, que tem hoje 22% da população do planeta e apenas 7% das terras aráveis, embalada pelo modelo americano, já consome três vezes mais grãos e duas vezes mais carne que os EUA. Os chineses compram hoje mais carros que os americanos. 18 milhões de novos veículos de passeio entraram nas ruas chinesas só em 2010 (toda frota brasileira é de 32 milhões de veículos). Com o crescimento da economia chinesa, se cada chinês consumir, por exemplo, a mesma quantidade de papel que os americanos consomem atualmente, em 2030, os 1.46 bilhão de chineses, sozinhos, consumirão todo papel que o mundo produz hoje.

Onde vamos parar? Em 1804 a população humana atingiu o primeiro bilhão. 130 anos depois, em 1930, chegou a 2 bilhões. Com os avanços da ciência e tecnologia e a queda da mortalidade infantil, o ritmo acelerou. Em 1960, chegamos a 3 bilhões. Em 1974, 4 bilhões; 1987, 5 bi; 1998, 6 bi; e continuamos crescendo. Como planejar para atender aos atuais 7 bilhões de habitantes – metade urbanos, amontoado em cidades – e mais os 75 milhões de novos habitantes/consumidores acrescidos anualmente à população humana?

Agências de classificação de risco já começam a monitorar a sustentabilidade setorial. Assim como graduam a capacidade de uma empresa ou um país de cumprir compromissos financeiros, dando notas e influenciando mercados, agencias como a Standard & Poors, sintonizadas com a realidade corrente e evoluindo na acreditação, já disponibilizam indicadores como os S&P Global Thematic Index Series e o S&P/ASX (Sustainability Reporting Practices).

Portanto, mais do que oportuna a publicação do WWI, vamos a ela!

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