Tragédias Anunciadas, até quando Brasil?
Infelizmente o ano de 2019 começou de forma trágica para o povo brasileiro, a triste sucessão de “acidentes” ocorridos em um curto período de tempo, deixou a população consternada, e perplexa com as coincidências entre situações similares em um passado recente.
Embora as fatalidades possuam naturezas distintas entre si (incêndios, desabamentos, quedas de aeronave, deslizamentos e explosões), a causa raiz em ambos possui grande semelhança. A impunidade, a ausência de aprendizado e de ações efetivas por parte do governo e das empresas envolvidas.
A pergunta que fica no ar, é: “Quantas mortes ainda ocorrerão até que algo seja realmente modificado?”. Trata-se acima de tudo, de uma questão cultural, na qual é possível notar a completa ausência ou imprecisa ou ainda ignorada avaliação de riscos e suas consequências, sejam elas, vidas humanas, danos ambientais ou perdas materiais.
Na segunda-feira (11/02/2019), durante a transmissão ao vivo na rádio Band News FM, naquela que seria a última da vida do jornalista Ricardo Boechat, morto 3 horas depois em decorrência de um acidente aéreo, ainda sob investigação, o âncora da Rede Bandeirantes de televisão disse algumas palavras chamando a atenção dos ouvintes para refletir a respeito:
“A velha tradição de deixar pra lá e tocar em frente, a negligência e a impunidade são a marca das tragédias no país…
Poucos dias se passaram e, as investigações do CENIPA (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos) já apontaram algumas irregularidades, que por si só, não seriam causa única para o acidente que vitimou além do apresentador, o piloto do helicóptero, más, que certamente contribuíram para o ocorrido.
Da mesma forma, o incêndio no Ninho do Urubu (centro de treinamento do Flamengo, Rio de Janeiro/RJ), o desmoronamento da barragem da mina do Córrego do Feijão (Brumadinho/MG) e outras tragédias que ocuparam os noticiários recentemente, parecem espelhar os mesmos erros de tragédias anteriores.
A ineficiente fiscalização, a omissão do poder público, as manobras em exigências regulatórias, a pífia cultura prevencionista e a quase certeza da impunidade deixaram um rastro de sangue no Brasil nos últimos 10 anos, assim como aponta o jornal (O Globo), que trouxe uma reportagem intrigante no dia 11/02/2019:
“Acidentes que poderiam ter sido evitados ou atenuados mataram mais de 1.700 pessoas”
Acidentes Similares:
- Rompimento de barragens: Mariana (2015) e Brumadinho (2019)
- Incêndios: Boate Kiss (2013); Museu da Língua Portuguesa (2015); Museu Nacional RJ (2018) e Ninho do Urubu (2019)
- Deslizamentos: Vale do Itajaí (2008); Angra dos Reis (2010); Nova Friburgo (2011) e Rio Centro (2019)
- Explosões: Rio Centro (2015); Caldeira Heineken (2016); Usiminas (2018) e Rio Botafogo (2019).
- Quedas de Aeronave: Voo TAM (2007); Voo Chapecoense (2016); Voo Eduardo Campos (2018); Voo Teori Zavascki (2018) e Voo Boechat (2019).
O Brasil tem sido frequentemente noticiado na mídia mundial, sendo tido como um “exemplo a não ser seguido”, e, principalmente, como um lugar onde reina a impunidade e o descaso com a vida.
Medidas mais rigorosas devem ser adotadas imediatamente, em todos os âmbitos do poder público, nas esferas (jurídica, executiva e legislativa), além da fiscalização rigorosa e da punição severa a instituições privadas prevaricadoras, para evitar que novas ocorrências venham a ocorrer.
Além disso, a cultura de acidentes precisa mudar no país, é preciso aprendermos que ações reativas devem ser vistas como emergenciais, e o trabalho na prevenção deve ser muito maior, inclusive valorizando as companhias que conseguem provar efetivamente sua atuação em segurança, indo além das exigências legais e evitando quaisquer acidentes.
As grandes potencias no mundo olham apreensivas para o Brasil, e muitas vezes, devido as ocorrências e a exposição negativa, inúmeros investimentos são barrados, em tecnologia, em infraestrutura e em renovação do pátio industrial nacional, mantendo o país cada vez mais distante das grandes potencias e dos países emergentes.
Além disso, as mais de 1700 vidas perdidas, deixam um grande vazio nas famílias e na sociedade, que acompanha os jornais com “medo” de ver qual será a próxima tragédia.
Diogo Domingues Sousa – Engenheiro de Segurança do Trabalho